Plantar e Regar

* Por @felizardoreis

Vou ser bastante sincero com você: esse texto demorou bastante a sair. Dessa vez, Foi um desafio conseguir me organizar para alinhar as ideias. Foram muitos acontecimentos que me deixaram um tanto sem norte para propor esse texto.
Mas, para minha alegria aqui estamos nós nos encontrando outra vez, agora para dialogar sobre um tema que tem sido caro ao meu coração: as plantas e a espiritualidade.
Antes de tudo quero deixar claro que não sou especialista em plantas e que no ensino médio eu devo ter sido reprovado ou passado no empurrão na disciplina de botânica. Mas, ainda assim, vou ousar falar uns devaneios acerca das plantinhas.

Começo com uma lembrança de infância que se relaciona as plantas, meu avô paterno. Meu avô tinha um quintal gigante, pelo menos quando eu era criança ele parecia imenso, e nós dois éramos muito amigos e lá gastávamos a maior e a melhor parte do nosso tempo. Meu avô além de um grande leitor de espiritualidade, foi um farmacêutico de cidade pequena e já receitou muito chá e remédio caseiro.
As lembranças mais gostosas do Sr. Otácilio são relacionadas a uma conversa que eu e ele tivemos uma vez, quando ele me disse sobre a vida e sobre a espiritualidade. Eu não me lembro quantos anos eu tinha, mas lembro que sentado em uma poltrona verde ainda faltavam bons centímetros para que meus pés tocassem o chão. Isso não ajuda a saber minha idade naquele dia, pois eu sempre fui baixinho.
Meu avó, naquela manhã de sábado, me disse algo como um pequeno mantra que ficou no meu coração: quem planta e cria sempre tem alegria. Nesse dia ele disse que acreditava que as plantas eram capazes de nos curar, proteger e zelar. Por isso, me instruiu a sempre regar com amor e muito cuidado minhas plantas, essas criaturas iriam me agradecer o cuidado e me ensinar muito.
Alguns vinte anos depois vim morar em uma casa com um terreno muito grande, e as plantas e o cuidado com elas foram capazes de me ajudar em alguns pontos da minha ansiedade. Nessa casa as verdinhas se tornaram uma companhia e sacramento de um abraço de quem sinto muita saudade.

Mas eu não quero que você ache que esse texto seja só história emotiva, o que é um pouco confesso. Mas, esse texto é uma partilha de quem passou a ser um grande observador das plantas e com elas tem aprendido uma diversidade de segredos e formas de estar mais feliz.

Outro dia eu estava limpando meu jardim com meu pai, quando olhei para o lado estavam pequenos tocos da minha rosa, e os galhos no chão. Ele a podou e podou bastante. Na hora quase morri do coração, minhas roseiras são fundamentais, como um bom apaixonado pro Cecília Meireles. Entretanto com passar de algumas semanas aquela roseira se ergueu muito mais fortalecida e cheia de vida. Mas, meu pai sabia como podar, afinal podar não é tão simples.
Regar e podar são atividades fundamentais. Eu tenho um amigo, um dos melhores, que sempre me mandava uma mensagem dizendo que o amor é uma plantinha, e, quando ele não é regado ele vai morrer. Regar sempre, rotina de cuidado faz o amor permanecer sendo amor.

Nessa metáfora, ainda, preciso acrescentar que as relações e o amor precisam de tempos em tempos de poda, limpando, tirando os excessos e fortalecendo o que realmente importa. Mas, como bem fez meu pai, deve-se podar com muito cuidado para não ferir o que é essencial. Na poda, observa-se, toma-se cuidado e tira-se o excesso para crescer outra vez ainda mais forte.
As plantas tem seu processo individual de florescer. Cada uma no seu tempo, cada uma a sua maneira. Algumas preferem a sombra, outras são perfeitas para o sol. Algumas lindas e cheias de espinhos e outras frágeis e macias. São diversas e por isso são tão lindas. A diversidade é para mim um segredo do sagrado.
As plantas e o seu processo podem nos ensinar muito. Elas além de serem mestras da paciência, também nos ensinam a grande virtude do cuidado. O cuidado com as plantas é pago quando ao florescer ou crescer, gratuitamente, elas agradecem. A gratuidade é um dom esquecido mas a gente sabe o quando que algo gratuito como um abraço ou um sorriso de pertinho nos tem feito falta.
Observar, contemplar e entender que o tempo e a natureza podem ser escolas de como lidar melhor com a vida.

Entender que a há tempos de chuvas e há também dias de sol e que nem todos nós damos conta de todos esses dias. Às vezes florimos, às vezes não e esse pode ser nosso processo.

Nós e as flores precisamos de cuidado, limpeza ou poda, e sempre ficamos felizes quando experimentamos que alguém gratuitamente cuida de nós para que nós em nossa individualidade possamos florir a nossa forma e como somos.
Engraçado que comecei falando das plantas e no meio do caminho acabei falando de nós, ou do quando elas me ensinam a olhar pra dentro de nós. Afinal, somos plantinhas com sentimentos complexos. Cuide-se!
Minha amiga, Cecília Meireles que também é grande amiga das flores nos alerta: “Não se aflija com a Pétala que voa, também é ser deixar de ser assim.”

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